Eficácia e Segurança Clínica
O estudo Esther-1 foi um estudo randomizado, assessor-cego, controlado em 1.326 pacientes sob FIV/ICSI, comparando o esquema de dose individual de Deltafolitropina (com dose fixa) com um esquema de dose padrão de alfafolitropina padronizada por massa (dose inicial de 11 microgramas (150 UI) nos primeiros 5 dias seguido de ajustes de dose a partir do dia 6 da estimulação com base no desenvolvimento folicular). A faixa etária das pacientes era até 40 anos de idade (idade média de 33,3 ± 3,90) e possuíam ciclos menstruais regulares considerados ovulatórios. Da população estudada 59% era <35 anos e 41% era ≥35 anos, dos quais 25% entre 35-37 anos e 16% era 38-40 anos. A transferência única de blastócito no dia 5 foi compulsória com exceção de pacientes entre 38-40 anos, nas quais foi realizada transferência dupla de blastócito, se não houvesse blastócito de boa qualidade disponível.
Os dois desfechos co-primários foram índice de gravidez em andamento e índice de implantação em andamento, definido como pelo menos um feto intrauterino viável 10 – 11 semanas após a transferência e número de fetos intrauterinos viáveis 10-11 semanas após transferência dividido pelo número de blastócitos transferidos, respectivamente.
O estudo demonstrou que Deltafolitropina é, no mínimo, tão efetivo quanto a alfafolitropina em termos de índice de gravidez em andamento e índice de implantação em andamento, como mostra a Tabela 1.
Tabela 1 Índice de gravidez em andamento e índice de implantação em andamento no estudo Esther-1

População: todos randomizados e expostos
O valor clínico do esquema de dose de Deltafolitropina baseado no hormônio anti-Mülleriano (AMH – anti-Müllerian hormone) também foi avaliado no desfecho secundário, assim como a resposta ovariana, o gerenciamento do risco de síndrome de hiperestimulação ovariana (SHO) e consumo de gonadotropina.
Resposta ovariana e dose total de FSH
Resposta ovariana excessiva levando à indução com agonista de GnRH ocorreu em menor número em pacientes que receberam o esquema de dose individualizada de Deltafolitropina quando comparado ao esquema de dose de alfafolitropina (p<0,05). Baixa resposta ovariana com consequente cancelamento do ciclo ocorreu em índices comparáveis em Deltafolitropina e alfafolitropina.
A média geral de número de oócitos recuperados foi similar em pacientes tratados com Deltafolitropina e alfafolitropina, com mais pacientes tratadas com Deltafolitropina alcançando 8-14 oócitos em comparação com alfafolitropina, com dose inicial de 11 microgramas (150 UI) e ajustes durante a estimulação (p<0,05). A média da dose diária de Deltafolitropina foi de 0,16 μg/kg. A resposta ovariana e dose total de FSH e de acordo com a concentração de AMH estão dispostas na Tabela 2.
Tabela 2 – Resposta ovariana e uso de gonadotropina no estudo Esther-1
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Deltafolitropina em esquema de dose individualizada |
Alfafolitropina |
Todas as pacientes |
N=665 |
N=661 |
Número de oócitos |
10,0 ± 5,6 |
10,4 ± 6,5 |
Pacientes com 8-14 oócitos
recuperados |
43,3% |
38,4% |
Ajuste de dose |
0% |
36,8% |
Dose total (μg) |
90 ± 25 |
104 ± 34 |
AMH <15 pmol/L |
N=297 |
N=306 |
Número de oócitos |
8,0 ± 4,3 |
7,0 ± 3,9 |
Pacientes com < 4 oócitos
recuperados |
11,8% |
17,9% |
Ajuste de dose |
0% |
41,2% |
Dose total (μg) |
104 ± 20 |
108 ± 40 |
AMH ≥15 pmol/L |
N=368 |
N=355 |
Número de oócitos |
11,6 ± 5,9 |
13,3 ± 6,9 |
Pacientes com ≥ 20 oócitos
recuperados |
10,1% |
15,6% |
Ajuste de dose |
0% |
33,0% |
Dose total (μg) |
79 ± 23 |
100 ± 26 |
Diferenças entre Deltafolitropina e alfafolitropina foram estatisticamente relevantes (p<0,05) para todos os parâmetros presentes na tabela com exceção na categoria de número de oócitos recuperados para todas as pacientes e para dose total em AMH <15 pmol/L.
Os dados da resposta ovariana referem-se às pacientes com desencadeamento da maturação folicular final.
População: todas randomizadas e expostas.
Segurança–gerenciamento de risco da SHO
A incidência de pacientes que necessitaram de intervenções preventivas para SHEO precoce, como para a indução com agonista GnRH ou administração de agonista de dopamina, foi reduzido em 50% nas pacientes tratadas com Deltafolitropina quando comparado com as pacientes tratadas com alfafolitropina (p<0,05). A SHO precoce e/ou intervenções preventivas, assim como SHO precoce e tardia e/ou intervenções preventivas ocorreram em menor frequência com o esquema de dose individualizada de Deltafolitropina quando comparado ao esquema de dose padrão de alfafolitropina (p<0,05). Os parâmetros para o gerenciamento de risco de SHO encontram-se resumidos na Tabela 3.
Tabela 3 Gerenciamento de risco no estudo Esther-1
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Deltafolitropina em esquema de dose individualizada (N=665) |
Alfafolitropina
(N=661) |
Intervenções preventivas para SHO precoce |
2,3% |
4,5% |
SHO precoce e/ou intervenções preventivas para SHO precoce |
4,7% |
6,2% |
SHO precoce moderada/severa e/ou intervenções preventivas para SHO precoce |
3,6% |
5,1% |
SHO precoce e tardia e/ou intervenções preventivas para SHO |
5,6% |
8,0% |
SHO precoce e tardia moderada/severa e/ou intervenções para SHO precoce |
4,4% |
6,7% |
Diferenças entre Deltafolitropina e alfafolitropina foram estatisticamente significantes (p<0,05) para todos os parâmetros da tabela.
População: todas randomizadas e expostas.
Segurança – Imunogenicidade
Anticorpos anti-FSH foram mensurados na pré-dose e pós-dose em pacientes submetidas a até três ciclos de tratamento repetidos com Deltafolitropina (665 pacientes no ciclo 1 no estudo Esther-1 assim como 252 pacientes no ciclo 2 e 95 pacientes no ciclo 3 no estudo Esther-2). A incidência de anticorpos anti-FSH após o tratamento com Deltafolitropina foi de 1,1% no ciclo 1, 0,8% no ciclo 2 e 1,1% no ciclo 3. Esses índices foram similares ao índice de anticorpos anti-FSH pré-existente anteriormente à exposição ao Deltafolitropina no ciclo 1, o qual foi de 1,4%, e comparável aos índices de anticorpos anti-FSH após o tratamento com alfafolitropina.
Em todas as pacientes com anticorpos anti-FSH, os níveis eram indetectáveis ou muito baixos e sem capacidade neutralizante. O tratamento repetido com Deltafolitropina em pacientes com anticorpos anti-FSH pré-existente ou induzido por tratamento não ocasionou aumento do nível do anticorpo, não foi associado à diminuição da resposta ovariana e não induziu eventos adversos imuno relacionados.
Dados de segurança pré-clínica
Os dados não-clínicos não revelaram nenhum risco especial para humanos com base nos estudos convencionais de segurança farmacológica, toxicidade de dose repetida e de tolerância local.
A superdose de Deltafolitropina resultou em ação farmacológica ou ação farmacológica exagerada.
Deltafolitropina demonstrou efeito negativo na fertilidade e no desenvolvimento precoce embrionário em ratos quando administrado em doses ≥ 0,8 μg/kg/dia, acima da dose máxima recomendada em humanos.
Considerando que Deltafolitropina é contraindicado durante a gravidez, estas observações possuem significância clínica limitada.
Características Famacológicas
Propriedades farmacodinâmicas
Grupo farmacoterapêutico:
Hormônio sexual, gonadotropina.
Mecanismo de ação
O efeito mais importante, resultado da administração parenteral do FSH, é o desenvolvimento de múltiplos folículos maduros.
O Deltafolitropina é um FSH humano recombinante produzido em uma linha celular humana por tecnologia de DNA recombinante. As sequências de aminoácido das duas subunidades de FSH do Deltafolitropina são idênticas às sequências do FSH endógeno recombinante. A linha celular expressante pode influenciar as características do FSH recombinante, e diferenças no perfil de glicosilação, padrão de ácido siálico e perfil de isoformas foram documentadas entre Deltafolitropina e produtos de FSH recombinante como alfafolitropina e betafolitropina em linhas celulares de ovário de hamster Chinês (CHO). A glicosilação de FSH no Deltafolitropina contém tanto o ácido siálico ligado à α2,3 como o ligado à α2,6 (o 2,6-ácido siálico está ausente no FSH recombinante derivado de CHO), diferentes açúcares como N-acetilgalactosamina, carregam ligações adicionais entre carboidratos como N-acetilglicosamina bissectante e a fucose ramificada, e tem uma maior proporção de estruturas tetra-antenárias e maior conteúdo geral de ácido siálico do que no FSH recombinante derivado de CHO.
Efeitos farmacodinâmicos
As comparações realizadas entre Deltafolitropina e alfafolitropina indicam que as diferenças na glicosilação influenciam tanto na farmacocinética quanto no perfil farmacodinâmico.
Após administração diária de doses iguais (UI) de Deltafolitropina e alfafolitropina como determinado em bioensaio in vivo realizado em ratos (ensaio de Steelman-Pohley), maior exposição FSH e maior resposta ovariana (por exemplo, estradiol, inibina B e volume folicular) foram observadas em pacientes após administração de Deltafolitropina quando comparado com alfafolitropina. Como o bioensaio em ratos pode não refletir totalmente a potência de FSH em Deltafolitropina em humanos, Deltafolitropina é dosado em microgramas e não em UI. Além do mais, a dose em microgramas de Deltafolitropina suficiente para obter a mesma resposta farmacodinâmica é 11 a 27% menor, considerando 11 microgramas (150 UI) de alfafolitropina em termos de desenvolvimento folicular e hormônios relacionados.
Consequentemente, a dose recomendada de Deltafolitropina em microgramas não é aplicável para outras preparações de FSH recombinante.
O número de oócitos recuperados aumenta com a dose de Deltafolitropina e a concentração de AMH sérico.
Inversamente, o aumento de peso corpóreo leva a uma diminuição dos oócitos recuperados (clinicamente relevante apenas para doses de Deltafolitropina abaixo de 12 microgramas).
Consequentemente, o esquema de dose de Deltafolitropina baseia-se na concentração de AMH sérico e, além disso, no peso corpóreo para doses abaixo de 12 microgramas.
Propriedades Farmacocinéticas
O perfil farmacocinético de Deltafolitropina foi investigado em pacientes sadios do sexo feminino e em pacientes em FIV/ICSI submetidas a COS. Após repetidas administrações subcutâneas, Deltafolitropina alcançou nível estacionário (steady state) dentro de 6 a 7 dias com uma concentração três vezes maior comparado com a concentração após a primeira dose. Os níveis séricos de Deltafolitropina são inversamente relacionados ao peso corpóreo, o qual suporta a individualização da dose com base no peso corpóreo.
Absorção:
Após a administração subcutânea diária de Deltafolitropina, o tempo para concentração sérica máxima é de 10 horas. A biodisponibilidade absoluta está em torno de 64%.
Distribuição:
O volume de distribuição no nível de equilíbrio estacionário está em torno de 9 L. Dentro da faixa de dose terapêutica, a exposição à Deltafolitropina aumenta proporcionalmente com a dose.
Eliminação:
Após administração intravenosa, o clearance de Deltafolitropina é de 0,3 L/h. A meia-vida de eliminação final após administração subcutânea única é de 40 horas e após administrações subcutâneas múltiplas é de 28 horas. A comparação da farmacocinética de Deltafolitropina com a da alfafolitropina após administração subcutânea única da mesma dosagem em UIs por 7 dias, revelou que o clearance aparente é 1,6 vezes mais lento e a ASC e Cmax são 1,7 e 1,6 vezes maior para Deltafolitropina do que para alfafolitropina.
Espera-se que Deltafolitropina seja eliminado de forma similar às outras folitropinas, isto é, principalmente pela via renal. A fração de Deltafolitropina excretada de forma inalterada na urina foi estimada em 9%.